domingo, 30 de agosto de 2009

sentimentos líquidos

A sociedade cada vez mais está destruindo as instituições que tornavam as relações humanas mais estáveis, e essa tal de internet ajudou em muito a tornar as pessoas cada vez mais superficiais.
Hoje em dia, todo mundo tem vários "perfís" e ama todo mundo enlouquecidamente!
E compromisso e cuidado com o outro: zero.
A teoria de "sentimento líquido" é do cientista político Zygmunt Bauman, pode ser melhor compreendido no artigo Mal estar Líquido onde ele fala do "mal do século" que não é mais o stress, e sim a depressão, afinal, "a felicidade é um direito. E aparentemente está ao alcance de todos. Não conquistá-la é assumir-se um perdedor diante de um mundo que dá oportunidades para todos que querem ser donos de suas vidas", então é isso, pior do que se vê às voltas com o sucesso, nesse sistema capitalista, é não alcançar o sucesso.
E quando você fracassa, ainda tem que se deparar com relações instáveis e falta de apoio.
Eu temo por nossas vidas líquidas, e desejo às próximas gerações muita solidez!

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

mar de celofane



“(...) e se fazes de meus braços teu barco
então, bosques em meu peito trago
para ser teu lar quando vieres em cavalos de pano

- bosques em barcos; cavalos de pano

e navegarmos no mar de celofane branco e ciano
sob nuvens de algodão suspensas por notas de piano
pois você é diferente e todos os outros me deixam cansada

- não sei se estou dormindo ou se já estou acordada”

Parabéns ao meu pequeno homem menino, que fez na vida a grande mancada de me conquistar... agora está ferrado, pois "que não seja imortal posto que é chama, mas que seja eterno enquanto dure."
FELIZ ANIVERSÁRIOOOO

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Das vantagens de ser bobo;

Acho que é justo que esse texto seja postado uma vez nesse blog, sabendo-se da característica abobalhada das autoras, e do amor que ambas sentem por Clarice.

"O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir, tocar no mundo.
O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado
por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo, estou pensando”.
Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de
sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.
O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas.
O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver.
O bobo parece nunca ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.
Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer.
Resultado: não funciona.
Chamado um técnico, a opinião deste era que o aparelho estava tão estragado que o concerto seria caríssimo: mais vale comprar outro.
Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e, portanto estar tranqüilo.
Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.
Aviso: não confundir bobos com burros.
Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"
Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!
Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu.
Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.
O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos.
Os espertos ganham dos outros. Em compensação, os bobos ganham a vida.
Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás,
não se importam que saibam que eles sabem.
Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro,
com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem
por não nascer em Minas!
Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas.
É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca.
É que só o bobo é capaz de excesso de amor.
E só o amor faz o bobo."


(Clarice Lispector)

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Tu Quaresma, és um visionário...

Dica de livro da semana


Lima barreto, escritor brasileiro nascido no Rio de Janeiro, escreveu entre suas principais obras "Triste Fim de Policarpo Quaresma". Um romance que conta a história de um anti-herói brasileiro, visionário e nacionalista.
Felismente tive a oportunidade de lê-lo essa semana - obrigada a você que me emprestou o livro , gostei muito - e fiquei muito imprecionada com os personagens, com a história e com desfecho dela. Realmente Lima Barreto vai entrar pra minha lista de autores a ser explorado.
Além de Quaresma, personagem principal, com caracteristicas visionárias, quase utópicas e tão peculiares, um outro personagem também me encantou muito, Ricardo Coração dos Outros, um tocador de violão, cantador e compositor de modinhas, esse é uma figura igualmente simpática, igualmente sonhadora e com uma personalidade aventureira/musical( se é que se pode definilo assim).
Analize melhor você os personagens. Recomendo a boa leitura desse clássico brasileiro e pra você que não tem um amigo bacana pra emprestar/trocar livros legais, assim como eu, encotrei um link com alguns capítulos do livro.

http://www.biblio.com.br/defaultz.asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/LimaBarreto/LimaBarreto.htm


Deixo um trecho da descrição que o autor faz sobre Policarpo Quaresma.
"Desisteressado de dinheiro, de glória e posição, vivendo numa reserva de sonho, adquirira a candura e a pureza d'alma que vão habitar esses homens de uma idéia fixa, os grandes estudiosos, os sábios e os inventores, gente que fica mais terna, mais ingênua, mais inocente que as donzelas das poesias de outras épocas. É raro encontrar homens assim, mas há e, quando os encontra, mesmo tocados de um grão de loucura, a gente sente mais simpatia pela nossa espécie, mas orgulho de ser homem e mais esperança na felicidade da raça."