quinta-feira, 13 de maio de 2010

Dica de filme: Vermelho como o céu



Baseado na história real do um renomado editor de son Mirco Mencacci, Rosso Come il Cielo é um filme, também Italiano, que a primeira vista é apenas um drama que não poupa emoções (bem típico dos italianos), no entanto, ele faz agente pensar em como o talento suprime as limitações físicas, e nos faz pensar também como a rotina nos faz tão omissos às coisas maravilhosas que Deus nos proporciona diariamente (como um dia friozinho de chuva, ou uma linda tarde de verão), assim, aconteceu com Mirco, que precisou perder o maravilhoso dom da visão, pra começar a "enxergar" o mundo de forma mais atenta e poética.

Pra não ficar só em minhas palavras, veja o que a crítica diz sobre o filme:

"Emotivo e emocionante, como só o cinema italiano sabe fazer. Assim é Vermelho como o Céu, filme que conta a história real de Mirco (Luca Capriotti), um garoto de dez anos que fica cego num acidente doméstico e é obrigado a freqüentar uma escola especial, longe dos pais e dos antigos colegas.

À primeira vista ? sem trocadilhos ?, o tema da cegueira infantil poderia sugerir um filme melodramático e choroso, mas esse, felizmente, não é o caminho seguido pelo diretor Cristiano Bortone, um cineasta inédito no circuito comercial brasileiro. Pelo contrário: Bortone trata o tema com lirismo e extrai de seu jovem elenco (quase todo formado por crianças realmente cegas) ótimos momentos de bom humor. Como tudo é ambientado na Itália dos anos 70, o sub-tema que permeia a trama é o autoritarismo, aqui travestido na figura do diretor da escola especial, um homem amargo ? ele próprio também cego ? que não acredita nas capacidades produtiva e criativa do deficiente visual. Como se percebe, há várias formas de cegueira.

Numa segunda análise, Vermelho Como o Céu é um filme sobre transições. O protagonista é obrigado a se adaptar ao mundo da escuridão, ao mesmo tempo em que cresce, em todos os sentidos, como pessoa. Enquanto isso, lá fora, a própria Itália é compelida a mudar as leis sobre estudantes deficientes, como o filme explica no final. Também sem querer estragar o final da trama, o destino verídico deste menino, quando adulto, também é dos mais poéticos.

Além de fazer uma belíssima declaração de amor ao cinema, Vermelho Como o Céu resgata a tradição humanista e passional de um tipo de cinema italiano que não tem medo de chorar. Não por acaso, ele foi eleito o melhor filme pelo Júri Popular da 30ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo."

quarta-feira, 12 de maio de 2010

E agora, José?

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, proptesta?
e agora, José?


Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?


E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?


Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?


Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você consasse,
se você morresse....
Mas você não morre,
você é duro, José!


Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?


Carlos Drummond de Andrade