sexta-feira, 24 de setembro de 2010

[Poema nosso de cada dia]

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos. [...]

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.


(João Cabral de Melo Neto)

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Dia Mundial Sem Carros

Comemoramos todos os dias!






"(...)O principal motivo da celebração é diminuir a quantidade de carros individuais nas cidades. Os problemas são os que já conhecemos: grandes congestionamentos, poluição do ar e sonora, isolamento urbano, acidentes fatais, problemas de saúde, alto consumo de combustíveis fósseis, gastos aos cofres públicos, queda de produtividade e redução da qualidade de vida."


"(...)Entre as medidas mais citadas estão o incentivo e o investimento no transporte público de forma a torná-lo eficiente e de alta qualidade, convencendo o usuário a trocar o seu carro individual por um modal coletivo."



Pena que nossos governantes não atentam para esse dia.
Por isso, e por muito mais, próximo dia 03 de outubro, vote consciente.
tomecontadobrasil#

domingo, 19 de setembro de 2010

Silêncio Aflito


Vi meus olhos refletidos em olhos verdes e tristes.

Aperto no peito.

Grito calado de socorro.

Ajuda que não existe.

E eles não vêem,
Cegos pelo consumismo e pela vaidade

que suga até a última gota de sentimento.

E palavras que da mesma forma que se propagam se dissipam.

Agir! É o que pediu os olhos verdes.

Medo é o que sente meu corpo.

Coagido! Olhando o horizonte desejando a liberdade utópica.

sábado, 18 de setembro de 2010

Aos "Artistas Plásticos"...


Uma composição de Zeca Baleiro e Zé Ramalho

Desmaterializando a obra de arte do fim do milênio
Faço um quadro com moléculas de hidrogênio
Fios de pentelho de um velho armênio
Cuspe de mosca, pão dormido, asa de barata torta

Meu conceito parece, à primeira vista,
Um barrococó figurativo neo-expressionista
Com pitadas de arte nouveau pós-surrealista
calcado da revalorização da natureza morta

Minha mãe certa vez disse-me um dia,
Vendo minha obra exposta na galeria,
"Meu filho, isso é mais estranho que o cu da jia
E muito mais feio que um hipopótamo insone"

Pra entender um trabalho tão moderno
É preciso ler o segundo caderno,
Calcular o produto bruto interno,
Multiplicar pelo valor das contas de água, luz e telefone,
Rodopiando na fúria do ciclone,
Reinvento o céu e o inferno

Minha mãe não entendeu o subtexto
Da arte desmaterializada no presente contexto
Reciclando o lixo lá do cesto
Chego a um resultado estético bacana

Com a graça de Deus e Basquiat
Nova York, me espere que eu vou já
Picharei com dendê de vatapá
Uma psicodélica baiana

Misturarei anáguas de viúva
Com tampinhas de pepsi e fanta uva
Um penico com água da última chuva,
Ampolas de injeção de penicilina

Desmaterializando a matéria
Com a arte pulsando na artéria
Boto fogo no gelo da Sibéria
Faço até cair neve em Teresina
Com o clarão do raio da silibrina
Desintegro o poder da bactéria

Com o clarão do raio da silibrina
Desintegro o poder da bactéria

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Sem Título

É como se tivesse esvaziando-se de vez. E é um vazio tão fundo que o preenchimento completo, aquele que um dia viveu, já nem seria mais possível.

Vai andando, e querendo aos poucos a explosão dos sentidos. O medo é incontrolável, os questionamentos maiores, e são esses questionamentos que impedem os riscos.
Inveja os que não sofrem com isso, aqueles que tomam pela rédea os sentidos e com a força da razão conseguem seguir.

Vai correndo, com uma pressa de uma fome que precisa ser saciada antes que a morte chegue. Mas o alimento, embora doce, apetitoso aos olhos, não tem o mesmo sabor e nem sacia mais, não tem aquele azedo que fazia a garganta doer e o doce não é tão saboroso como aquele manjar.

Vai parando, cansado de tanto correr. Acalma, senta e espera.
Olha lá fundo, fecha os olhos pros resquícios e pras dores.
Espera o poeta cantar.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Linda forma de falar do AMOR.



Quando eu saí de uma importante depressão, eu disse a mim mesma que o mundo no qual eu acreditava deveria existir em algum lugar do planeta. Nem se fosse apenas dentro de mim... Mesmo se ele não existisse em canto algum, se eu, pelo menos, pudesse construi-lo em mim, como um templo das coisas mais bonitas em que eu acredito, o mundo seria sim bonito e doce, o mundo seria cheio de amor, e eu nunca mais ficaria doente. E, nesse mundo, ninguém precisa trocar amor por coisa alguma porque ele brota sozinho entre os dedos da mão e se alimenta do respirar, do contemplar o céu, do fechar os olhos na ventania e abrir os braços antes da chuva. Nesse mundo, as pessoas nunca se abandonam. Elas nunca vão embora porque a gente não foi um bom menino. Ou porque a gente ficou com os braços tão fraquinhos que não consegue mais abraçar e estar perto. Mesmo quando o outro vai embora, a gente não vai. A gente fica e faz um jardim, qualquer coisa para ocupar o tempo, um banco de almofadas coloridas, e pede aos passarinhos não sujarem ali porque aquele é o banco do nosso amor, do nosso grande amigo. Para que ele saiba que, em qualquer tempo, em qualquer lugar, daqui a não sei quantos anos, ele pode simplesmente voltar, sem mais explicações, para olhar o céu de mãos dadas.